7 de fevereiro - Pelo Passo de Jama até o Atacama

Depois de um café da manhã caprichado na Quinta la Paceña, saímos em direção a San Pedro de Atacama. Do ponto de vista logístico este é um trecho meio complicado. Entre a Quebrada de Humauaca, onde estávamos, e San Pedro de Atacama são 420Km. Neste trecho, há um único vilarejo, Susques, ainda na Argentina, que tem posto de gasolina e uma hospedaria para pernoite. Entretanto, a estrada é nova (o trecho Argentino foi inaugurado pelo Kirchner no final de seu mandato) e está toda asfaltada e bem sinalizada.

Do ponto de vista de paisagens, esta é a estrada mais espetacular que já percorri.

Saindo da Quebrada de Humauaca, a gente percorre um outro canion, em direção Oeste, para o Chile. Partindo de 2.500m de altitude vai se subindo, a princípio suavemente, até chegar na "Questa de Lipán", uma grande seqüencia de curvas fechadas que leva a gente até 4.100m!



Este trecho é de tirar o folêgo, literalmente. A esta altitude, começa uma dorzinha de cabeça persistente, que só larga a gente quando baixa para menos de 3.000m. Além disso, falta folêgo para qualquer caminhadinha maior. É o mal de altitude, conhecido pelo locais como "la Puna". Até verbo já virou. Te perguntam: "ficaste puneado?". Cada pessoa reage de outra forma. No nosso grupo, a Paula foi quem passou pior. Desde o início da Questa de Lipán, ela começou a se sentir mal e só se recuperou de verdade quando voltamos a Salta, 5 dias depois.

Mesmo "puneados", seguimos deslumbrados com a paisagem quase extra-terrestre. Depois de subir até um passo, só resta uma alternativa, que é, é claro, uma nova descida, agora serpenteando em direção a um salar (dá para ver no topo da foto abaixo).

A estrada passa bem no meio desta salina (3.400m de altitude), chamada "Salinas Grandes", que está em exploração comercial.


Depois destas salinas, a estrada segue, mantendo a mesma altitude até o vilarejo de Susques. Aqui é possível abastecer-se de combustível (há dois postos, um na vila e outro na saída para o Chile) e até um caixa automático para obter moeda argentina. Não vimos nenhuma opção de almoço, mas também não procuramos. Tem uma hospedaria, que de fora parece razoável. O problema aqui é pernoitar a quase 4.000m de altitude.

De Susques, a estrada faz uma grande volta pelo Sul, contornando o enorme Salar de Olaroz(provavelmente era caro demais fazer a estrada atravessando diretamente o salar). Aqui se está no altiplano, sempre a uns 4.000 metros. Todo o tempo, há sinais de habitação e seguidamente podem se vistas lhamas ou vicunhas.



Há uns 100Km de Susques, finalmente chega-se ao posto fronteiriço Argentino, no Passo de Jama. Aqui faz-se os trâmites de saída da Argentina. A entrada no Chile é feita somente em San Pedro de Atacama. Nossa passagem pelo posto foi rápida (menos que 30 minutos), pois havia poucas pessoas passando. Aproveitamos para comprar uns sanduiches honestos em um pequeno quiosque junto ao posto de fronteira (deve ser o quiosque mais remoto da Argentina!).

Do Passo de Jama até San Pedro de Atacama são 165Km de paisagens de "cair o queixo". Não muito depois da fronteira, a esquerda da estrada há a Laguna e Salar de Losloyo, em que deu para tirar umas fotografias espetaculares. Quem vê as fotos pensa que usamos polarizadores, mas estes são desnecessários nesta altitude. O ar é rarefeito e absolutamente sem poluição. Aliás, como não há animais, impressiona o silêncio (tivemos sorte de não ter vento).





Depois disso, a estrada passo pelo seu ponto mais alto. Pelo que medimos no GPS, ao redor de 4.850m de altitude!! Nesta altitude, em locais virados para o Sul, havia um pouco de neve.


Alguns quilômetros adiante há uma laguna absolutamente verde (Laguna do Rio Quepiaco).



Logo depois, a água deste mesmo rio permite que se forme vegetação (Vegas del Rio Quepiaco). Aqui pode-se observar flamingos (provavelmente flamingos James, que é a espécie que no verão está nas lagunas de altitude) e vicunhas.

Depois disso a estrada se mantém sempre acima de 4.000m, com vistas espetaculares, como a do Vulcão Licancabur, que já fica próximo de San Pedro de Atacama.

Uns 20 quilômetros antes de San Pedro, a estrada inicia o descenso dos 4.000m de altitude para os 2.500m do vale, em que se encontra a cidade. Esta descida mais lembra um tobogã, do que uma estrada, pois é uma reta imensa. A vista de dentro do carro deve ser a mesma que tem um piloto ao fazer a aproximação de uma pista. De carro, a descida é tranquila, vai-se a 100Km/h, sem necessidade de frear. Mas, para os caminhões, a história é outra. Pelo número de carcaças e de cruzes ao lado da estrada, da para ter uma idéia de que nem sempre a descida é bem sucedida. Aliás, a estrada é ladeada de pistas de escape, que nada mais são que acostamentos largos, cheios de brita e de ondulações que se destinam a segurar o infeliz que perder os freios.

Ao final da reta, está San Pedro de Atacama. Antes de entrar na cidade, a gente tem que fazer a imigração, que, no Chile, infelizmente, é demorada, principalmente porque a Vigilância Sanitária revista todo carro, inclusive bagagens. Depois de quase uma hora, finalmente liberados fomos para nosso hotel.

Em San Pedro tudo está muito mais caro que na Argentina. Para ter uma idéia, os bons hotéis em que ficamos na Argentina tinha diárias de US$70-80. Já os hotéis da mesma categoria em San Pedro custam ao redor de US$130-150. Pesquisando na Internet, tive a sorte de encontrar um Hotel, Hosteria San Pedro de Atacama, que tem alguns chalés para quatro pessoas. Com isso, conseguimos ficar com uma diária no patamar das da Argentina. Esta Hosteria fica bem perto do centro. Não tem nada de excepcional, é um hotel grande que recebe muitas excursões, mas tudo funciona bem. Importante em San Pedro, é que tem gerador próprio, pois na cidade diariamente falta energia elétrica.

Nos hospedamos e depois fomos ao centro para conhecer a cidade e para jantar.

Distância percorrida neste dia: 440Km

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